sábado, 6 de novembro de 2010

Um conto

“Não te preocupes… sou muito boa naquilo que faço”, disse Cátia numa voz dengosa mas segura, desapertando o fecho das calças devagar, firmemente, enquanto o olhar dele não descolava das últimas quatro linhas de coca intactas no cd de DAFT PUNK em cima da mesa da sala. Quando não tinha pachorra para aquecer um prato, Sérginho escolhia os cd's para dar riscos baseando-se numa série de critérios, a saber: cor escura, música boa e um título apropriado para a ocasião. “Discovery” tinha-lhe parecido ser a escolha ideal naquela madrugada. As ideias atropelavam-se no raciocínio acelerado: “podia dar só mais um cheiro, merda, apetece-me, mesmo, mesmo. Mas pode cortar-me a tusa, quando é demais a coca também pode dar para isso, também, e até que tou fixe, tou fixe, tou mesmo fixe, um bom broche é quase sempre o princípio de uma boa queca, sabe Deus há quanto tempo não dou uma de jeito, pelo menos de que me lembre, ela diz que é boa naquilo que
faz e quem sou eu para duvidar? Relaxa e aproveita, pensou.

Deu um golo que matou o que restava da Heineken que tinha numa mão, enquanto afagava os cabelos da Cátia com a outra.


Excerto de "O principio de uma boa queca" um tema do Algodão Não Engana, tem conteúdo explicito e pode ferir subjectividades (quem já leu e eu fui tarde, querquesselixe).





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